Um daqueles momentos que nos fazem acreditar na humanidade

Terça-feira, 29/11/16, o dia amanheceu triste. Exageradamente triste. As notícias estavam todas concentradas na queda do avião que levava o time da Chapecoense. Mais de 70 mortos. Famosos e anônimos. Projetos, sonhos, metas, objetivos, alegrias, sucessos, esperanças. Tudo isso caiu quando caiu o avião. Não demorou muito e o assunto do dia no mundo inteiro era a queda do avião.

Então, independente de qualquer apelo – eventos assim não precisam de apelo, afinal, já são em si o próprio apelo – começamos a ver nas redes sociais, nas pessoas, nas entrevistas, nos gestos, nas lágrimas, na solidariedade, o melhor lado que o ser humano pode manifestar, o lado da empatia, do querer ajudar, do buscar consolar.

O time adversário que disputaria a final, abriu mão do título e o ofereceu a Chapecoense, num gesto singular e nobre. Atletas e autoridades do mundo inteiro se manifestaram. Amigos e clientes meus, dentre os quais alguns que nem gostam de futebol, testemunharam sua dor e impacto com o ocorrido. Mensagens, cartas, de todas as formas, de todos os jeitos e por todo tipo de pessoa com manifestações de pesar e dor foram chegando, tudo simbolizando um grande abraço universal, onde diferenças, cores, credos, línguas, culturas, status, posições, cargos, enfim, onde toda a pluralidade possível desceu para um nível inferior, dando lugar à singularidade da vida que, no final de todas as coisas como as conhecemos, é o que de fato importa.

Era para ser só mais uma terça. Mas não foi. A tragédia parou as redações, as reflexões, o corre-corre, alterou prioridades, modificou agendas. Embora o caos social, político e econômico que vive o mundo como um todo, o ser humano percebe quando sua fragilidade é exposta. Percebe claramente quando sua independência e segurança não passam de um vento. O ser humano se encolhe na alma, se recolhe no coração com suas dores, se internaliza frente ao quadro que expõe o fim abrupto, sem aviso, sem preparo, sem apelação. Tudo isso faz pensar, rever, reconsiderar e ressignificar nossa curta e veloz vida.

É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã porque nunca saberemos quando termina nosso voo pessoal. Porém afirmo, é preciso amar as pessoas exatamente porque existirá um amanhã. E a linguagem do amor, a comunhão em amor, o amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos, o tolerar e suportar em amor, o perdoar em amor, tudo isso compõe o caminho do amor, que é o único que nos fará chegar num reino de amor.

Tal reino tem um Rei e Ele é identificado e explicado numa frase simples, que todo leigo ou teólogo entende, que todo ateu ou crente entende, que toda criança ou sábio entende, essa frase simplesmente afirma que “Deus é amor”. A expressão verdadeira e encarnada do amor é uma pessoa: Jesus. Ele sabe a dor que sentimos ao perder amados em tragédias, leitos hospitalares, acidentes os simplesmente pela velhice que chegou, Ele sabe. Mas Ele abriu um caminho excelente, pelo qual um dia voaremos para Ele e com Ele.

Conforto e consolo é nossa oração para os sobreviventes e familiares da tragédia que marcou esta terça. Frente a mais absoluta falta de capacidade para saber como será nosso minuto seguinte, se com vida ou não, precisamos reverenciar e respeitar mais o nosso agora, é tudo o que temos, é onde podemos de alguma forma ofertar nosso melhor. Pena que nosso melhor, na maioria das vezes, teime em aparecer somente nos momentos de dor, de perda, de desgraça. Temos enfim um lado bom como seres humanos, nossa alma clama por vida, por afeto, por cuidado, por justiça, por dignidade, por amor. Tudo isso, com a queda do avião, ficou latente, veio à tona através de palavras, gestos e atitudes que emocionam e nos fazem crer na humanidade. Será que não poderia ser sempre assim? Ou será que precisaremos de novas tragédias para novas manifestações de ajuda, de compaixão, de amor?

Paz!

Por: Pr. Edmilson Mendes

Imagem: blastingnews

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