Você tem dificuldade para orar?

Eu tenho, e muita.

Eu me converti aos 11 anos em uma igreja com tendências neopentecostais e zero conhecimento de uma tal de Teologia Reformada. Um dos únicos aspectos que me fazem crer que eu de fato me converti, mesmo tão nova e em um ambiente tão desfavorável a isso, é a simples convicção de pecado que tive no ato de minha entrega a Cristo. E, a partir desse momento, em 16 de abril de 2003, eu me tornei uma cristã. Só que havia um problema: eu estava em uma igreja que não havia me ensinado a ser cristã. Eu lembro claramente que, no dia seguinte ao da minha conversão, eu olhei para minha mãe e disse:

“Agora eu preciso ler a Bíblia, né?”

E foi aí que começou a minha saga dentro desse universo fascinante que é a devocional, a qual é constituída, genericamente, por leitura da Bíblia e oração. Se eu pensava que “precisava ler a Bíblia” e apenas isso, imaginem qual era o meu conceito de oração: algo abstrato, metafórico, solto no Universo, que precisava ser tirado da minha mente (distraída) e do meu coração (corrupto).

E foi com esse conceito que eu cheguei aos 26 anos, 14 anos após eu perceber que sequer precisava orar. Uma coisa precisa ser dita: todo crente PRECISA orar, e eu digo “precisa” no sentido de que é uma necessidade urgente do nosso ser. Mesmo sem saber orar (cognitivamente falando), eu sinto que, sem aquilo, não poderei prosseguir. E foi isso que me levou a buscar aprender mais sobre esse tema, visto que cansei de orações com um profundo sentimento de que eu estou fazendo tudo errado e/ou orações cheias de necessidade, mas carentes de vontade. E eis que eu descobri algo óbvio, porém extraordinário:

A Bíblia ensina a orar.

E ela o faz a partir de dois princípios:

Ela literalmente traz orações para você se inspirar e, quem sabe, até copiar.

Existe um livro inteiro de orações chamado Salmos, além de inúmeras orações, súplicas, pedidos e expressões de louvor, desde Gênesis até Apocalipse. Com isso, a Palavra não só nos ensina a orar como nos mostra a dinâmica das orações que agradam a Deus. Se Davi se preocupa tanto em louvar ao Senhor, existe uma razão. Se Paulo ora tanto pelo bem das igrejas e da comunidade dos santos, fica aí a dica para nós. A Bíblia é uma verdadeira aula de oração. A sua devocional não deve ser leitura bíblica + oração. Ela deve conter as duas atividades de uma forma intimamente relacionada e dependente.

Ela mostra quem você é e quem Deus é, e a partir disso, você tem uma base para suas orações autorais.

Ao contrário do que eu pensava, a oração não é uma coisa abstrata que você tira da sua cabeça do nada e cria de acordo com a aleatoriedade do seu raciocínio. A oração é um diálogo entre você e o seu Criador, logo, você precisa se conhecer (locutor) e conhecer a Ele (interlocutor) para que o processo de comunicação seja executado com sucesso, como acontece com qualquer outra conversa que você tem no seu dia-a-dia. Se você sabe que alguém é engenheiro, você não vai perguntar se é veterinário. Se você sabe que determinada pessoa tem problemas com os pais, você não vai iniciar a conversa falando sobre isso. No caso da oração, quem é o seu Deus? Ele é Todo-Poderoso (Apocalipse 4:8), então você pode pedir pela Sua intervenção para sair de uma situação difícil no trabalho. Ele é um Pai Perfeito (Mateus 5:48), então você pode confessar seus sentimentos mais profundos sem qualquer medo de rejeição. Ele é Bom e Misericordioso (Salmo 145:8), portanto, você deve louvá-Lo pela tão grande salvação que chegou a você somente por escolha dEle. E quem é você? Você é pecador (I João 1:8), portanto, achegue-se diante dEle em contrição e arrependimento. Você não pode fazer nada sem Ele (João 15:5), então peça pela Sua ajuda para executar suas atividades diárias. Você é filho de Deus (Romanos 8:16), comprado por um alto preço de sangue (I Coríntios 6:20), logo, a sua única atitude diante disso tudo é glorificá-Lo e exaltá-Lo com todo o seu coração.

Diante disso, eu afirmo que você não precisa se sentir inseguro e ansioso diante da necessidade de realizar uma oração. Apesar de sabermos que nossas súplicas sempre serão falhas e inapropriadas (Romanos 8:26), isso não tira a nossa responsabilidade de fazê-las, e o Senhor deixou caminhos claros em Sua Palavra para que supríssemos essa carência gritante das nossas almas. Você não precisa confiar no seu raciocínio disperso ou no seu coração corrupto para falar com o seu Pai. Confie em Sua Palavra. Essa é a melhor forma de fazer uma oração conforme a Sua Vontade, assim na Terra como no Céu.

Fonte: Dois dedos de Teologia

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