Saudade sim, remorso não

Outro dia me peguei tendo de responder sobre como consegui acompanhar a infância de meus filhos. A resposta simplesmente fluiu. Eu estava lá. Em cada dia, em cada fase, em cada fato. No parto dos dois me internei com a Re. Vivi as emoções das primeiras fraldas, dos chorinhos noturnos, de embalar cada um altas horas até que pegassem no sono, a primeira palavra, o primeiro dia de aula, cada aniversário, os amigos, as descobertas, as dúvidas, as angústias dos “por quês?”, a adolescência, a faculdade, os choros, os sonhos, as vitórias, os fracassos, a conversão, o batismo, a comunhão.

Eu estava lá. Eu com eles, eles comigo. Numa decisão radical, eu e a Re decidimos que levaríamos os dois no máximo de compromissos que pudéssemos referentes ao ministério. E assim foi, em viagens de 100 km ou de 1000 km, lá íamos nós. E isso praticamente todos os finais de semana. Sei que essa rotina não é o padrão. Não advogo que esta é a única rotina boa ou correta. Existem outras tão boas ou melhores. Mas eu tinha de responder como foi a minha experiência e não qualquer tipo de boa teoria que se lê em livros.

Notei que a medida que eu respondia os olhos dos meus dois ouvintes, um casal, brilhava e marejava. Não sei se eles notaram, os meus olhos também reagiam da mesma maneira! Pois a medida que eu falava ia lembrando de cada lance, de como foi incrível as coisas que Deus fez para nos surpreender. Lembro que na época, para quem me criticava, eu dizia: “Em toda minha vida, sempre que investi meu tempo cuidando das coisas de Deus Ele cuidou das minhas coisas.”

Por favor entenda, não dizia isso como uma troca, como se Deus “só” cuidasse da gente se fizéssemos algo em troca para Ele. Nada disso, sei, defendo, prego e anuncio que a Graça de Cristo é maravilhosa, inexplicável, exagerada, ilimitada, independente de qualquer mérito nosso. Enfim, eu dizia o que dizia num gesto tão somente de fé no cuidado amoroso dEle.

Sabe qual foi o resultado do papo que tive com aquele casal? Saudade! Muita saudade de um tempo que eu e a Re vivemos intensamente com todas as nossas forças, dedicação e entendimento. Foi então que na conversa alguém comparou: Melhor sentir saudade do que remorso, né? Sem dúvida. Talvez se eu tivesse como rotina a ausência repetitiva e constante mesmo nos momentos que estivessem em minhas mãos escolher, a resposta seria sincera, porém carregada de dor e remorso.

Viva hoje para curtir uma boa saudade amanhã. Os ciclos passam e devemos saber viver e usufruir o melhor que Deus nos dá em cada fase. Não se omita, não se ausente, não rejeite o afeto e o carinho daqueles que tanto precisam e desejam a sua presença, pois os ciclos passam e um dia o remorso pelo bem que deveria ter sido feito e não se fez bate a porta do coração, da alma e da consciência, trazendo dor e angústia. Então levante, mude, reescreva sua história agora, ainda dá tempo, não permita que bons sonhos e projetos fiquem na saudade. Afinal, suas boas lembranças são construídas hoje.

Por: Pr. Edmilson Mendes

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