Preciso de conversão! Misericórdia, Senhor!

Faz tempo que eu sei que conversão é coisa para a vida toda. Deus nunca termina a sua obra em mim. Eu nunca dou conta das mudanças que ele quer realizar na minha vida e ele nunca desiste de mim. Aprendi que a palavra de Paulo em Romanos precisa ser lida para mim e contra mim: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1-2).

No Congresso Brasileiro de Missões, realizado em Águas de Lindóia, SP, de 10 a 14 de outubro de 2004, descobri que preciso me converter! Durante a palestra da Bráulia Ribeiro, uma rica conversa se estabeleceu entre o que eu ouvia e o que o coração me dizia. À minha memória vinham ênfases, opções e lacunas que eu havia abraçado e reivindicado no decorrer da minha caminhada. Então rabisquei num pedaço de papel quatro áreas nas quais vi que careço de conversão.

Conversão à compaixão, abandonando a distância na relação com o outro

Já falei várias vezes sobre essa necessidade, até porque na Visão Mundial a gente lida tanto com a miséria e a necessidade humana que é difícil continuar sendo insensível à realidade de sofrimento do outro. Não há um dia em que ao ligar o computador não se encontre alguma notícia de desastre, emergência ou necessidade cruel em algum lugar do mundo; e todos na organização acabamos sendo candidatos à “fadiga da compaixão”. Além disso, eu me conheço o suficiente para saber que diante de situações de sofrimento e necessidade me revisto de uma certa distância estratégica. Mas sempre que me debruço sobre os Evangelhos vejo Jesus olhando para as pessoas com compaixão e dirigindo-se a elas com um sorriso nos lábios. Em Cristo vemos que a compaixão é uma expressão de amor que estabelece proximidade de vida e comunhão de coração entre as pessoas. Assim, eu oro a Deus pedindo que me dê o dom do amor, para que eu cultive proximidade com as pessoas, especialmente com os pequenos e os pobres.

Conversão à vida, relativizando a sistematização

É um pouco difícil falar sobre isso, pois o jargão teológico acaba se impondo. Falo dos processos de sistematização num esforço por fazer da teologia um discurso lógico e da fé, um processo racional. Eu aprendi a fazer isso, mas há um bom tempo estou querendo ir além desse jeito de falar da nossa fé. Esse jeito que formula conceitos, mas tende a colher abstração; sistematiza conhecimento, mas gera distância pessoal e relacional; procura explicar Deus, mas se embaralha em sua própria e limitada linguagem. É claro que a fé tem conteúdo e deve se expressar em conhecimento, mas tenho aprendido que Deus não se deixa enquadrar nem sistematizar; tenho aprendido que Deus rompe com os meus esforços cognitivos e bagunça com eles. Deus anda por lugares que eu acho estranhos, faz o que eu reluto em fazer, relaciona-se com pessoas das quais mantenho distância, sempre na busca da salvação e na vivência do amor — coisas das quais eu nunca dou conta. Por isso, preciso orar que Deus me dê olhos de fé que me ajudem a ver tanto a carência como o brotar da vida.

Conversão à oração, abandonando os processos de excessiva racionalização

… É preciso entender que se entregar nas mãos de Deus e abandonar-se aos seus cuidados é algo que nunca se deve deixar de fazer. Já percebi que a oração mais real não é aquela em que eu formulo as coisas claramente para Deus, mas sim aquela na qual as minhas palavras se transformam em silêncio de espera e a minha articulação racional se transforma num gemido. Oro, então, que Deus continue a converter a minha vida de oração na gestação de uma relação com ele e a partir dele com o outro, especialmente o pequeno e o pobre.

Posso convidá-lo a orar pela minha conversão e a converter-se comigo?

Adaptado de: Ultimato

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