Planejamento familiar

“Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele, dizendo: Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar” (Lc 14:28-30)

Lembro-me da primeira vez que me deparei com esse conceito. Eu estava fazendo uma mentoria com um casal em crise, onde a esposa, entre outros problemas, trazia para mim a queixa de que seu marido não lhe inspirava confiança como líder da família. Seu pedido era um grito de socorro e desespero. Ela dizia: “Pastor, eu não quero tomar a frente dos rumos em meu lar, mas não tenho escolha, pois meu esposo é omisso, passivo e indiferente”. Por mais que o marido tentasse defender-se daquelas acusações que afetavam sua autoestima, o fato é que ele estava completamente perdido. Na mentoria procurei ajudá-los na descoberta de opções para um casamento mais saudável e entre elas surgiu a de fazerem um planejamento familiar. Quando começamos a elaborar o plano de ação tive os meus olhos abertos para a urgência desse assunto entre as famílias.

Mas afinal, o que é planejamento familiar? O enfoque que desejo compartilhar nesse breve artigo pode levá-lo a uma compreensão diferente do que você conhece, aproximando-se de outro termo bastante conhecido e aplicado nas organizações: “Planejamento Estratégico”. Quero dirigir-me em especial aos maridos por terem o dever, a função, responsabilidade e papel da liderança dentro do lar (Ef 5:22-24):

  • Em que direção você tem conduzido sua família?

  • Você tem planos bem definidos para os próximos quatro ou cinco anos em relação à sua família? Sua esposa e filhos tem conhecimento disso e compartilham da direção que você está dando?

  • Seu orçamento está orientado para atender aos objetivos do seu planejamento?

  • Sua agenda diária, semanal e mensal reflete o compromisso com os objetivos definidos para esse plano?

  • Com que frequência você senta com seu cônjuge e filhos (dependendo da idade) para uma avaliação, ajustes e prestação de contas de como estão caminhando no plano de ação?

Essa era a grande crise do casal, especialmente por parte da esposa, que me procurou para a mentoria. Por trás de tudo era essa a inquietação. Maridos e pais ouçam com atenção. Na família, esposa e filhos querem ser liderados por um homem que sabe de onde está saindo, para onde vai e como fará essa caminhada. Isso traz segurança, paz e sentido de realização. Parafraseando e aplicando o texto de Lucas 14:28-30 pode-se afirmar que há um custo muito alto para a construção de uma família saudável, mas que nem sempre é pensado e calculado. Muitos se casam sem estabelecer alicerces firmes e ainda outros que mesmo colocando não são capazes de terminar a construção. Eugene Peterson foi muito feliz, inspirado ao parafrasear as palavras de Jesus em Mt 19:11-12 (The Message): “Nem todo mundo é maduro o suficiente para a vida conjugal. Requer uma certa aptidão e graça. Casamento não é para todos. Alguns, aparentemente desde o nascimento, nem pensam no casamento. Outros nunca são pedidos – ou nunca aceitam. E outros decidem não se casar por motivo do Reino. Mas se você é capaz de crescer para corresponder à grandeza do casamento, faça-o”.

Trabalhando juntamente com minha esposa no discipulado, mentoria e aconselhamento de casais há mais de dez anos, tenho percebido uma necessidade crescente de investir na capacitação de homens para saberem como corresponder à grandeza do casamento, liderando sua família com sabedoria, dando-lhe um sentido claro de direção. Aqui vão algumas dicas que podem lhe ajudar nesse desafio:

Identificar um mentor: O papel dessa pessoa será lhe ajudar, com boas perguntas, a entender sua realidade atual, levantar as opções e auxiliar na elaboração do plano de ação. Faça uma lista com os nomes de pessoas que você acha que poderão lhe dar essa mentoria por três a seis meses. Organize por ordem de prioridade quanto a quem é sua preferência. Siga em frente fazendo o convite para a primeira. Caso ela não aceite passe para a segunda e assim por diante até encontrar seu mentor. Esteja aberto para possibilidade de ser homem ou mulher, da sua cidade ou de outro estado. Estabeleça uma agenda de encontros de pelo menos uma hora a cada quinze dias podendo ser pessoalmente ou usando o recurso de skype, msn. Lembre-se de que a iniciativa deve partir sempre de você por ser a pessoa interessada. Seja responsável em cumprir com os horários, tarefas, retornos. Mentores não tem tempo a perder e sentem-se desmotivados em andar com quem não leva a sério a própria vida. Um excelente livro para entender a relação entre mentor e mentoreado foi escrito por Howard e Willian Hendricks “Como o ferro afia o ferro” (Ed. Shedd). Havendo tempo sugiro que faça essa leitura para melhor compreensão do processo de mentoria.

Ser interdependente com sua esposa: Há dois extremos para tomar cuidado. O primeiro é ser dependente (precisando da ajuda do outro para tomar decisões e lidar com a vida). O segundo é a independência (tomando decisões e lidando com a vida sem precisar de ninguém). Aqui a orientação é para que você aja com interdependência (tendo condições de poder ser independente, mas escolhendo compartilhar sua vida e decisões com o outro). Veja sua esposa como alguém que caminha numa equipe com você. Converse, troque ideias, ouça bastante a perspectiva dela quanto aos pontos fortes e fracos do casamento, criação dos filhos, administração das finanças, sonhos para o futuro e família em geral. Tome decisões participativas com ela. Os filhos que já tiverem idade para entrar nesse processo também poderão ser envolvidos. Isso fará enorme diferença na elaboração do planejamento que não será apenas seu, mas de todos, contando com o apoio e compromisso de cada um.

Entender a estrutura de um planejamento familiar: Em linhas gerais você deve inserir as seguintes partes:

Visão: Para onde Deus quer que você conduza sua família nos próximos cinco anos? Responda essa pergunta e encontrará uma visão. Seja realista com certa dose de coragem e fé.

Missão: Complete a frase “Minha família existe para…”. Coloque isso numa declaração de duas a três frases, buscando na Palavra de Deus os fundamentos para isso.

Valores: Novamente tente completar a frase: “Em nossa família valorizamos…”. Pense em pelo menos sete valores centrais que possam lhe ajudar na tomada de decisões dentro da família.

Áreas estratégicas: Ao fazer o planejamento sugiro que pense nas seguintes áreas: Espiritualidade, educação, finanças, relacionamentos, saúde, casa.

Objetivos: Para cada área definida acima estabeleça objetivos mensuráveis quanto ao que pretende alcançar em cada ano.

Estratégias: Isso diz respeito ao que será feito para alcançar seus objetivos. Nessa parte é preciso ser prático e criativo.

“Família S/A”, escrito por Josué Campanhã (Ed. UP) é um bom recurso para ajudá-lo passo a passo nesse processo.

Realizar encontros com a família para avaliação: O ideal é que seja feito pelo menos uma vez por mês. Nesse encontro pergunte: Onde estamos caminhando bem e onde precisamos melhorar? Quais ajustes podemos fazer? Quem fará? Quando? Quanto? Como? Separe um tempo para regar tudo com oração e expressarem gratidão a Deus.

Prestar contas: Todo plano precisa de alguém para nos acompanhar, encorajar, perguntar, confrontar. Enfim, alguém que “pegue em nosso pé”. Seu mentor fará um pouco disso no começo, mas depois será preciso ter alguém com quem você compartilhará seu plano de ação e pedirá para que ela faça esse papel. Sem isso, as chances do seu plano fracassar são muito grandes.

Celebrar: É gostoso chegar ao fim do ano, reunir a família em um momento especial para testemunhar os objetivos realizados, as bênçãos recebidas, as vitórias alcançadas. É tempo de celebrar. Fiz isso uma vez com minha família viajando de Brasília ao Pará. Dentro do carro houve tempo de sobra para conversarmos, agradecer, celebrar e renovar os sonhos para o ano seguinte.

Você está satisfeito com a atual situação de sua família? Espero que não. Quando ficamos satisfeitos temos a tendência de parar de crescer. Alimente uma “santa ambição” de querer muito mais para você, sua esposa e filhos. Quais são os seus sonhos? Você pode ter a casa que tanto sonha, fazer a faculdade que precisa, fazer um mestrado, crescer no ministério, melhorar seu envolvimento na igreja, investir na profissionalização dos seus filhos, comprar o carro de que necessita, realizar uma excelente viagem de férias, investir na sua saúde, trocar os móveis que ficaram velhos, reformar seu imóvel, investir na comunhão e unidade da família, celebrar os vinte cinco anos de casamento com estilo e bom gosto, etc. Tudo isso é possível se houver “Planejamento Familiar”. Daqui a cinco anos sua família poderá ser bem melhor do que é hoje. Só depende de você dedicar-se em fazer uma boa construção!

Fonte: Sepal

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