Jesus se preocupa mais comigo do que com o que posso fazer para Ele

Quando me perguntam sobre minha vocação, geralmente falo de duas coisas: a primeira, que Deus quer nos usar com aquilo que Ele nos deu. O exemplo disso, para mim, é quando o Eterno convoca Moisés para libertar o povo hebreu do Egito. Seu mais novo líder não sabe como fazer isso e o Eterno pergunta a Moisés o que ele tem nas mãos. A resposta: um cajado – afinal, ele pastoreava animais, e agora iria pastorear uma nação. Deus usaria como ferramenta aquilo que Moisés já tinha em mãos, aquilo que Deus já havia dado a ele.

Por isso, a segunda coisa que respondo é que cumpro minha vocação com aquilo que Deus me deu: escrever. Há mais de 10 anos me formei em jornalismo e, nos últimos quatro, tenho buscado responder à oração “Venha a nós o Teu Reino” com meu dom e talento, em tempo integral, em missões. Entendi que poderia fazer isso ao interpretar a realidade ao meu redor e comunicá-la de forma que traga esperança e reconciliação ao mundo, de erguer minha voz em favor dos que não podem defender-se, de defender os direitos dos pobres e necessitados.

Descobri cedo, porém, que era possível conquistar minha identidade e meu lugar no mundo a um preço muito alto: o ativismo. Nos primeiros meses de dedicação exclusiva, passei a colocar o trabalho acima de tudo, como a coisa mais importante que eu tinha a fazer como cristão. Afinal, era essa minha vocação, e se eu não estava enterrando meu talento, tampouco podia administrá-lo de forma preguiçosa ou sem excelência.

Aprendi, então, que meu lugar no mundo é aos pés do Mestre. No final do capítulo 10 de Lucas, no qual Marta está preocupada em servir e dar o melhor de si para o Mestre, ela reclama com Ele e ouve que sua irmã, Maria, fez a melhor escolha – ficar aos pés Dele. Ali, comecei a entender como se dá essa dinâmica com o Mestre.

Ele tem mais interesse na nossa pessoa do que no nosso serviço. Jesus está mais preocupado comigo do que com o que estou fazendo para Ele. Nossa cultura de provar nosso valor pelo que fazemos muitas vezes contamina esse nosso relacionamento com Deus. Por outro lado, a Marta que há em mim, depois de entender que Maria tinha escolhido melhor, ainda pergunta: “Sim, entendi, legal. Mas quando é que termina a hora de ficar aos Seus pés e começa a de trabalhar?”

Consigo imaginar Jesus olhando para mim, com amor e ternura, lembrando-me de outra história de Maria, no capítulo 12 do evangelho de João. Seu irmão, Lázaro, havia ressuscitado dos mortos, depois que Jesus o chamou de volta à vida, e estava acontecendo um banquete em celebração a esse episódio. Maria, então, irrompe na cena, derramando um caro perfume nos pés de Jesus, enxugando-os com seus cabelos. Consigo imaginar Jesus olhando para mim, e dizendo: “Percebe, meu querido irmão? É só aos pés do Mestre que você entende a melhor maneira de servi-los. E se você realmente viver aos pés do Mestre, saberá a hora de levantar-se e prestar serviço a esses mesmos pés”.

Sim, creio que minha vocação está intrinsicamente ligada a Ele usar aquilo que tenho em mãos. Sim, creio pessoalmente que a capacidade que tenho de interpretar e comunicar a realidade ao meu redor é um dom que deve estar a serviço Dele.

Porém, hoje, tento buscar esse lugar na minha vida, esse meu lugar no mundo: aos pés do Mestre, e entender que qualquer coisa que eu faça, fluirá à partir disso. No fim do dia, encontrar meu lugar no mundo é encontrar-me aos pés do Mestre.

Fonte: Ultimato

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