Jesus, o Messias errado!

“Veio para o que era seu, mas os seus não os receberam”. João 1:11

Desde o Gênesis, onde Deus promete para Adão e Eva o Messias que viria para salvá-los do pecado, ele é esperado em Israel. Várias profecias foram dadas ao longo da História e uma esperança foi construída entre o povo judeu. Foram aproximadamente 3 mil anos de espera até Jesus aparecer na terra. E nesse período, os estudiosos e líderes da religião judaica foram criando uma imagem do Messias, influenciados pelos profetas e, principalmente pela cultura e anseio humano. Era o Cristo tomando uma identidade.

Ele seria o rei forte e poderoso, o maior que Israel teria, era comparado com Davi, aquele que guerreou com as nações vizinhas e conquistou a terra prometida a Abraão na sua totalidade. Pisaria nos inimigos de Israel e exaltaria a nação sobre a terra como a principal dentre todas. A religião judaica seria imposta por ele para todos os povos e cada ser humano seria obrigado a obedecer ao Deus de Israel.  Devidamente empossados, os líderes religiosos judaicos liderariam a religião mundial e ensinariam sobre Deus para as nações. Consequentemente, os romanos pagariam impostos para os hebreus, o rei Herodes não mais existiria e, agora, seria a vez dos judeus os dominarem.

Só que a profecia se cumpre e o Messias nasce em Israel numa manjedoura, pois ninguém quis abrir as portas para lhe dar um pouco mais de conforto. Os mestres da época, focados no rei forte e poderoso que apareceria, não perceberam as profecias se cumprindo no exato momento descrito. O evangelho de João é uma tentativa do evangelista provar que Jesus é o Cristo esperado por eles e começa mostrando que o Messias é Deus igual ao Pai, é o criador do universo e agora está nas ruas de Jerusalém como ser humano para cumprir a Sua missão. Nele está a vida que Adão perdeu, ele é a luz que ilumina as trevas, o pão que desceu do céu, o grande “Eu sou” revelado a Moisés, o bom pastor, a água viva e o caminho a verdade e a vida.

“Deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”. Estudiosos dizem que essa introdução do livro é uma poesia ou uma música feita por João, onde o refrão é exatamente essa parte, “deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”. Seria, então, repetida a cada estrofe para exaltar a tarefa do Messias neste mundo.

Mas não era isso que os judeus esperavam. O conceito que eles tinham do Messias não estava batendo com os fatos que eles estavam vivenciando. Um messias que domina a natureza? Que diz para o vento parar, que faz o surdo ouvir, que ressuscita mortos e cura vilas inteiras? Ok… isso nós até podemos aceitar. Contudo, onde está aquele rei forte e poderoso que estamos esperando? Quando você tomará o poder de Roma? Quando seremos exaltados diante de todas as nações? Não queremos esse Messias cheio de amor, que come com os pecadores ou que conversa com as mulheres e dá atenção às crianças. Você, que se diz Messias, deveria entender que não se deve perdoar uma adúltera, nem estragar nossa maneira de conseguir uma “propininha” no templo vendendo animais mais caros para os sacrifícios.

Não queremos esse Messias que nos ensine sobre quem é Deus, uma vez que nosso conceito de Deus já está formado. Não venha com essa história de que Deus é amor e quer salvar a todos. Nem vem nos dizer que vai morrer numa cruz e o sistema de sacrifícios vai acabar. Nós queremos alguém que nos aplauda e nos exalte como santos defensores da verdade e não nos corrija em público. Queremos um rei sanguinário que acaba com o poder de Roma, um Messias politizado e irado que destrói nossos inimigos e leve a nação judaica à liderança do mundo, escravizando as nações vizinhas.

Os judeus não queriam ser incomodados com a verdade. Eles queriam ter um relacionamento com um Deus distante. Com um deus que eles criaram ao qual ditassem as regras. Que não se intrometesse em seus costumes e que não mudasse seu status quo. Um Messias que chegasse perto deles e lhe mostrasse que estavam errados na interpretação das escrituras não era bem-vindo.

Dois mil anos depois e com uma lição deixada por aquele povo, me parece que nada aprendemos e que ainda almejamos um deus criado por nós mesmos. Nós até aceitamos seguir a Jesus, desde que Ele não nos contrarie. Desde que Ele não vá contra nossas ideias pré-concebidas e diga que estamos errados. Desde que Ele não critique os hábitos da nossa cultura.

Queremos um Jesus que resolva nossa vida financeira, mesmo quando gastamos de forma egoísta e, mais do que isto, um deus banqueiro que ao entregamos nossa oferta nos devolva com juros altíssimos, pois não esperamos menos que o dobro. Queremos um Jesus que mude nosso cônjuge para termos um casamento perfeito, uma vez que me acho sempre certo e sei como me portar num relacionamento, já meu companheiro (a) não está disposto a ouvir e seguir minhas regras de vida.

Queremos um Jesus que realize todos os nossos sonhos e nos dê uma vida feliz, assim podemos fazer inveja para todos que nos seguem nas redes sociais. Ainda que a Bíblia diga que seremos perseguidos e desprezados pelo mundo. Sim, o nosso messias é um deus que nos exalta e pisa em nossos inimigos esfregando na cara deles o nosso sucesso.

O messias que queremos hoje é bem capitalista e eu posso ver ele me abençoando quando consigo trocar de carro e mostro a minha casa nova para todos meus parentes. É um messias que não exige sacrifícios e que traz o sucesso rapidinho para todos. Um deus que derrama bênçãos aos meus pés imediatamente após eu orar exigindo. É um deus que obedece meus sonhos e trabalha incansavelmente para mim.

Ou, para alguns, é um deus chato, que não deixa nem levantar a mão dentro do templo. Que me aceita somente se uso certo tipos de roupas e se me comporto dentro de uns padrões impostos pelos anciãos da igreja. Um deus que está mais preocupado com as regras do que com amor e a misericórdia.

 “Ele veio para os seus, mas os seus não o receberam”.

O verdadeiro Messias quer transformar você. Quer te ensinar as coisas do céu, tirar o foco da sua vida das coisas materiais e que você pare de pecar. Ele veio para te salvar da morte eterna e não exaltar o seu orgulho e alimentar o seu egoísmo.

O messias criado na sua mente ou aquele mostrado para você desde criança e até mesmo pregado por muitos religiosos pode não ser o Messias da Bíblia que salva da morte eterna. A luz que desceu do céu não é um deus que coloca o sonho americano em seu coração e depois sai a trabalhar em seu favor. Também não é um deus que sai procurando seus erros para esfregar na sua cara mostrando como você é mau. Não é um deus que aceita você somente se cumprir no mínimo 80% dos requisitos do manual do clube que você frequenta.

O verbo se fez carne para recriar em você a imagem de Deus. A luz que brilhou nas trevas quer iluminar a sua vida e te tornar um filho do Criador. Isso tem a ver com o novo nascimento, com o Espírito Santo dominando a sua vida. Tem haver em você sendo totalmente submisso à vontade dEle, e não Ele à sua.

Ele quer se relacionar com você para poder revelar o Pai que só Ele viu e conhece. Isso implica até em mudar o conceito que você tem de Deus já que Ele não trabalha com respostas prontas para tudo, pois o relacionamento fará você enxergar os propósitos de Deus para a sua vida.

A minha oração é que você e eu possamos aceitar o verdadeiro Messias em nossa vida e deixar que o Criador do universo trabalhe em nós até sermos a sua imagem e semelhança. Caso contrário, iremos ao extremo de crucificá-lo novamente.

Fonte: Rodrigo Bertotti

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