Fale mais sobre você

Um dos pontos principais da fé cristã é reconhecer-se pecador. Não há motivo para salvação se não há um pecador. Isso é fato. Portanto, para me considerar cristã, preciso primeiramente olhar para mim e assumir o que em mim é inteiramente oposto a Cristo. Porque há muito em mim que envergonharia Cristo se ele não já soubesse quem sou.

Há algo que tenho observado. Eu sofro do mal da falta de autoanálise. Contudo, tenho a visão bastante apurada quando se trata do drama alheio. Falo dos pecados alheios com uma análise que faria jus a um excelente terapeuta, contudo, quando em um ambiente de confessar pecados uns aos outros digo “sim, sou pecadora” de forma bastante genérica e evasiva.
Devido à postura arrogante para falar do erro do outro, acabo ficando isolada. Ninguém se sente à vontade ao ser acusado constantemente por mim, a figura “impecável”. Contudo, os outros preferem ter um amigo de luta contra o pecado, um amigo real com suas próprias mazelas, com seus erros. Talvez o isolamento seja até bom para mim, esta pessoa irreal, porque a convivência revelaria quem sou, aquelas características que só os “de casa” conhecem.

O relacionamento comigo é um eterno falar do outro. Porque quando falo do outro não preciso falar de mim. Contudo, me esqueço de que quando “Pedro fala de Paulo, Pedro fala mais de Pedro que de Paulo”. Ao falar mal do outro revelo quem sou e o quanto de pecaminosidade há em mim, esta que não consigo enxergar, pois minha visão está ocupada com os erros do outro.
Não sei o que fazer quando estou diante de Deus em meu devocional. Se é que o faço, porque o aproximar-se de Deus serve para revelar o que há dentro de mim. Então, visto a roupa do fariseu e me sinto diante do publicano. Na hora em que deveria confessar meus pecados, os encubro exaltando minhas qualidades e engrandecendo Deus por ter me criado (Lc 18:9-14).
Quando falo mal do outro subo um degrau mais alto que o dele, para me sentir superior. Quero que vejam o quanto sou boa e melhor que outros. Não quero ser igual, quero ser percebida na multidão, diferenciada, quero ser considerada especial. Quero que me comparem e me elogiem. Quero que percebam minha beleza, minha inteligência, minha nobre família, minhas habilidades e todos meus atrativos.

Preciso aprender a deixar de lado minha falsa modéstia, minhas motivações equivocadas para fazer o “trabalho do Senhor”. Igreja não é o lugar aonde vou desempenhar funções para ter meu ego desequilibrado alimentado, mas é o lugar em que posso ser curada da minha necessidade de estar em evidência o tempo todo.

Preciso aprender que Igreja não é o lugar aonde vou para analisar como os outros são mais pecadores que eu e me sentir mais aliviada, me sentir “salva”, mas o lugar em que percebo que todos somos salvos pela graça, mediante a fé e isso nunca seria mérito meu e nem de ninguém, pois somos todos pecadores igualmente (Ef 2:8-10; Rm 3:10, 23).

Ajuda-me, Senhor, a ter um conceito equilibrado a meu respeito (Rm 12:3). Ajuda-me a fazer uma autoavalição correta. Ajuda-me a olhar mais para dentro de mim. Ajuda-me a avaliar minhas ações, reações e motivações. Ajuda-me a falar menos do outro. Ajuda-me a olhar mais para mim e confessar meus pecados.
Neste texto falei de mim e peço encarecidamente que me fale mais sobre você.

Por: Virgínia Ronchete

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