Discipulado de mulheres: ensinando ovelhas a serem ovelhas

“Ide, portanto, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.” (Mateus 28:19-20)

Derrota é como uma amiga cearense se expressa quando algo não saiu como ela esperava. Derrotada foi como eu cheguei na igreja onde congrego, e esta irmã juntou os meus farrapos e ajudou-me a emendá-los. Isso se chama compaixão e tem gosto de café com leite quente em finais de tarde chuvosas. Como é possível imaginar que aquela irmã tenha abraçado uma desconhecida e se envolvido com ela? Isso é graça.

Ela andou comigo quando a chuva era grossa, forte e fria. Mas isso não a intimidou. Embora ela trabalhasse o dia todo e tivesse seu tempo bem ocupado com múltiplos compromissos, ela (incrivelmente) tinha tempo para estar comigo. Andamos juntas por pouco mais de um ano. Isso se chama discipulado.

Encontrávamo-nos uma vez por semana, por aproximadamente 90 minutos. Neste tempo, nós orávamos, líamos as Escrituras, conversávamos sobre a vida cotidiana: relacionamentos, afetos, aplicávamos as Escrituras em situações nossas (e também comíamos pizza!). Trabalhamos em atividades de nossa igreja, organizando eventos, recebendo pessoas, dando aulas, auxiliando na cozinha, fazendo compras.

Preparamos almoços em nossas casas com o objetivo de evangelizar famílias que andavam desgarradas e perdidas. Consolamos os enlutados, alegramo-nos com os noivos que se casaram, celebramos alguns aniversários infantis, participamos de formaturas. Tomamos muitos, muitos cafés entre uma conversa e outra; choramos juntas, clamamos a Deus por várias petições, rimos, viajamos, tivemos dias de sol e de chuva, contamos dinheiro para saber se dava para comprar mais um quilo de ajuda. Confiamos em Deus, desconfiamos de generosidades exageradas e caminhamos. E enquanto caminhávamos, Deus agia, transformando minha fé rala em um rio encorpado.

Ela andou comigo, não uma milha, mas uma vida! Ela me ajudou a ver quem é o Salvador num mundo esfarrapado de miseráveis afetos. Gastou seu tempo, gastou sua própria vida com a minha vida. Você já parou para pensar quanto vale o tempo de alguém? Sinceramente, eu realmente me sinto amada quando alguém usa seu tempo comigo, e me sinto muito amada quando alguém gasta seu melhor tempo comigo. Isso é deleite! Gastar o seu tempo com o outro é como carregar a sua própria cruz, porque tem que haver renúncia, tem que morrer para si mesmo e dar a sua vida para o outro. Isso é amor! E o amor cobre uma multidão de pecados.

Essa irmã me ensinou a temer ao Todo Poderoso, porque ela reverenciava a Deus. Ela me apontou nas Escrituras grandes encontros de Deus com homens piedosos que se curvaram com o rosto ao chão diante da presença do Senhor. Ela diz que somos almas eternas, e isso a faz temer ao Senhor, quando, por exemplo, ele a encarrega de ensinar aos pequeninos. Isso é temor de Deus!

E, sim, preciso dizer ainda que todo esse caminhar junto somente foi transformador porque as Escrituras nos guiaram. Memorizamos versículos para alinhar os nossos pensamentos aos do Senhor. Estudamos os atributos de Deus para conhecer aquele a quem obedecemos e para termos uma teologia centrada nele! E Deus cresceu em meu coração, em meu entendimento, e revelou-se a mim. Isso me proporcionou colocar Deus no lugar de Deus: acima de todas as coisas. Estudar quem Deus é me deu músculos espirituais, fortalecendo-me e resgatando-me da crise (lembra? Eu estava naquela enxurrada!)

Minha irmã me ensinou o valor de muitas coisas, ensinou-me o valor de ler as Escrituras com frequência e assiduidade, ela me treinou na vida cristã como uma “personal trainer”. E vou lhe contar um segredo, ela é uma mulher comum, tão comum que é especial. Assim foi o meu discipulado “oficial”, o bom perfume de Cristo que ela exalou em minha vida, capacitando-me a ser hoje o perfume de Cristo na vida das filhas que Deus tem me dado. Isso é amor.

Chegamos até aqui para eu lhe dizer que não precisamos instituir oficialmente o ministério discipulador da igreja “x” para andarmos em amor com uma irmã. Olhe a sua volta: quantas oportunidades você tem aí, bem pertinho de você (no banco ao lado, está vendo aquela irmãzinha ali?) para “treiná-la” no conhecimento de Cristo. Olhe, preciso lhe dizer uma verdade, em tempos de “youtubetes e bloguetes”, muitas mentiras estão sendo disseminadas, e tem gente miúda tendo a sua cabecinha mal formada (deformada seria o termo correto) por gente que não tem temor do Senhor, gente que está com os dois pés no mundo. Se não falarmos a verdade para combater o mal, isso vai contaminando o nosso entorno.

Você sabe o que é discipular?

Ovelha, olhe só, para discipular não é preciso diploma de graduação! Discipular é andar junto com aquela irmã que Deus proporcionou estar ao seu lado hoje. Andar junto é gastar seu tempo com ela. Tempo bom ou ruim, faça chuva ou faça sol. Para isso, é necessário ter duas importantes características: disposição e compromisso. E é preciso ter amor. Com esses ingredientes, o Senhor vai nos suprindo e habilitando para toda boa obra.

Mas como eu faço isso?

Ah, ovelha, é bem simples, gaste tempo em oração por esta vida que Deus designou a você. Observe-a, pense sobre ela à luz das Escrituras. Ame-a. Tenha um coração misericordioso, lembre-se de como Jesus teve misericórdia de você. Relacione-se com essa pessoa, crie oportunidade de estarem juntas. Mulheres têm muitas oportunidades de conviverem, pense em algumas ocasiões em que possam estar em comunhão. Não precisa ser algo formal. E também pode haver aquele dia de leitura bíblica aos pés da cruz, escavando aquele versículo que está revelando todo o pecado em seu coração.

Haverá tempo de dar o seu próprio testemunho, de confessar suas fraquezas e mostrar como Cristo agiu poderosamente em sua luta contra o pecado. A sua vida é a Bíblia viva que ela estará lendo! A aprendiz de ovelha estará verdadeiramente olhando para tudo o que você faz, a forma como você fala, suas reações. Você será um modelo. Ah! Você não se sente pronta para isso? Ninguém está. Quando andamos juntas, todas nós aprendemos, pois é o Senhor quem nos habilita. (Ore e siga!)

Quem discipular?

Não é preciso procurar muito para perceber que pessoas em sua comunidade local estão ávidas por alimento. Tem aquela irmã que chegou há pouco tempo na igreja, que não conhece muito bem o Salvador. Tem uma outra que tem andado triste e preocupada com uma situação familiar que a tem sobrecarregado. Ah, tem aquela que vai ser mãe pela primeira vez, e são tantas as novidades, que seria bom alguém com um pouco mais de experiência e conhecimento poder lhe mostrar como ser uma boa mãe. É importante perceber que aquilo que pensamos ser pouco a oferecer poderá ser precioso para outra pessoa.

O que ensinar?

Mire na Bíblia. Certifique-se de que a Palavra de Deus seja o centro e o motivo do discipulado; lembre: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O nosso foco é Cristo. Vamos aprender dele e nos conformar a ele para a glória de Deus. Aqui é importante sublinhar quão necessário é estarmos saturadas da Palavra de Deus para podermos transbordar das Escrituras (corre lá para colocar a sua vida devocional em dia!). Você também poderá usar a leitura conjunta de um livro como ferramenta, e, no decorrer dos encontros, discutir sobre o tema do livro à luz das Escrituras.

Se a sua igreja não tem um ministério voltado para esta finalidade, não deixe de fazer o que está ao seu alcance. Converse com o seu pastor e diga que está acompanhando uma irmã em seu crescimento espiritual.

Fonte: Voltemos ao Evangelho

Sem comentários