Casamento por um fio

 “O cordão de três dobras (fios), não se pode romper” Ec 4.12

Recentemente assisti, num filme, o diálogo entre mãe e filha sentadas no banco de uma praça. A filha se queixava do seu casamento, preocupada com a possível separação e disse: “meu casamento está por um fio”. Imaginei que a mãe, como a grande maioria, iria tomar o partido familiar, falar mal do genro e assumir as dores da filhinha, dizendo que ele iria se arrepender se decidisse separar da sua princesa.

Para minha surpresa, aquela mulher aconselhou a sua filha de maneira sábia: “Que bom que seu casamento está por um fio”. A filha abriu os olhos espantada e a mãe lhe explicou que casamentos sólidos, rígidos são como enormes paredões de represas que são aparentemente fortes, mas é provável que essas paredes, que parecem uma fortaleza indestrutível, possuam vazamentos quase invisíveis. O problema desses casamentos é que esses vazamentos aumentam com o tempo e quando se rompem causam um estrago que na maioria das vezes é irreversível.

“Casamentos por um fio” são flexíveis, adaptáveis as novas situações da vida, e só eles conseguem se reinventar nas crises não previstas nos manuais. Neles os cônjuges fazem esforços intencionais quando surgem situações novas. Casam-se outra vez, sempre que for necessário. O marido se esforça para entender a esposa com seus humores variáveis na TPM (Tempo Para Matar), na sua paixão por compras e na quantidade de roupas e sapatos que deseja. A mulher busca entender o homem desligado com as datas, que gosta de ver TV com os pés sobre a mesinha da sala e não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo. Eles se contorcem, como um fio flexível, para compreender um ao outro. Rubem Alves disse que casamento é como jogar frescobol, às vezes é preciso se jogar no chão para a bola não cair.

Sim, faz sentido a afirmação daquela mãe. Nesses dias em que casamentos são descartáveis; líquidos, nas palavras de Zygmunt Balmann, é preciso ouvir as palavras daquela senhora e perceber que só casamentos flexíveis como fios de aço poderão resistir às rápidas e grandes mudanças dos novos modelos de família. Casamentos com regras imutáveis, produzem pessoas com corações duros. Ambientes inflexíveis geram rupturas. Um casamento sólido pode permanecer como uma instituição oficial, uma estatística de duas pessoas casadas, mas não será um organismo feliz, no qual os que fazem parte dele buscam intencionalmente a realização do outro.

Que o Senhor ajude nossos “casamentos por um fio”.

Fonte: Sepal

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