As cicatrizes não nos deixam esquecer

… Mas também não nos impedem de seguir

Eu gosto de comprar band-aid. Quando percebi isso, fiquei pensando quais poderiam ser os motivos da minha alegria ao ir à farmácia comprar curativos.

Assim que cortamos um dedo, por exemplo, imediatamente procuramos algo para estancar o sangue. Mas, nem sempre é dessa forma que agimos quando se trata de machucados no coração.

Muitas vezes, nós mergulhamos nas feridas que nos fazem. Não queremos sarar. E, algumas dessas vezes, mesmo depois de sarados, nos apegamos às cicatrizes que nos deixaram. Nossas lembranças mais doídas são cultivadas com a forma como olhamos para esses vestígios que marcaram em nossa existência alguma perda, traição, rompimento, frustração ou qualquer sentimento que nos dá a sensação de vazio.

Às vezes, sem percebermos, não queremos ser curados. E isso significa adiar o tratamento.

Deixamos de fazer coisas, ignoramos novas possibilidades de alegrias, esquecemos o que nos faz sentir mais vivos e tentamos nos vestir do passado. Porém, a verdade é que não precisamos cultivar essas dores e nem fazer das nossas cicatrizes restos de tristezas.

Há muitos tipos de band-aids possíveis para esse processo: conversar com alguém que confiamos e que dá bons conselhos, confessar pecados, ouvir a nós mesmos ao contar sobre o passado e os desejos para o futuro, deixar que alguém nos ajude, permitir que nos amem, aceitar que talvez seja tempo de ficarmos sós, pedir perdão, perdoar…

É possível seguir em frente. Essas cicatrizes todas nos ajudam a contar nossa história, a tomar novas decisões, fazer escolhas diferentes, aceitar novos desafios, a transformar tudo em aprendizado. Podemos construir “eus” diferentes a partir desse processo que pode ser longo, mas também profundo, rejuvenescedor e amadurecedor, ao mesmo tempo.

Não precisamos esquecer de nada. As cicatrizes não vão deixar. Mas, mudanças podem acontecer.

Fonte: Ultimato

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