A Reforma Protestante ainda nos ajuda hoje?

Quem já observou um pedreiro assentar tijolos certamente o viu usar um prumo. Ainda que antiquíssima, esta ferramenta não fica devendo a equipamentos sofisticados: não precisa de pilha para funcionar; é fácil de manusear e revela com precisão o que está fora de prumo!

Quando Deus o chamou, o profeta Amós viu que “o Senhor, com um prumo na mão, estava junto a um muro construído no rigor do prumo. E o Senhor me perguntou: ‘O que você está vendo, Amós?’ ‘Um prumo’, respondi. Então disse o Senhor: ‘Veja! Estou pondo um prumo no meio de Israel, o meu povo; não vou poupá-lo mais. Os altares idólatras de Isaque serão destruídos e os santuários de Israel ficarão em ruínas’” (Am 7.7ss.).

Um prumo na mão de um pedreiro descreve com precisão como Deus agiu e continua agindo com o seu povo! Ele criou a humanidade para viver aprumada. O “muro construído no rigor do prumo” alude ao fato de sermos criados à “imagem de Deus” (Gn 1.27). Mas ao encostar seu prumo na nossa vida fica evidente que ela está fora de prumo: não somos o que deveríamos ser!

Instrumentos de Deus em seu tempo

No século 16 Deus encostou seu prumo, as Sagradas Escrituras, na igreja. Seus instrumentos foram um monge alemão que lecionava numa universidade provinciana (Lutero), um padre suíço duma cidade de médio porte (Zwinglio), um jovem acadêmico francês (Calvino). Estes homens anunciaram o que perceberam em púlpitos e cátedras, assembleias e tribunais, bem como em panfletos e livros.

Eles sabiam que a validade dum prumo não expira, que a palavra de Deus continua válida e revela o que está aprumado diante dele e o que não! Sabiam também que um prumo funciona de cima para baixo! A posição da peça de madeira no alto determina a posição da de metal em baixo. Assim as Escrituras Sagradas são instrumento do Altíssimo e manifestavam sua vontade entre nós. Jesus criticou os saduceus, porque eles – apesar de sacerdotes (!) – desconheciam “as Escrituras” e “o poder de Deus!” (Mt 22.29; Mc 12.24). Ao redescobrirem o evangelho os reformadores reconheceram que o poder do Criador age pela Escritura para aprumar nossa vida! Por isto não se cansaram de estudá-la e interpretá-la.

Nosso ambiente é outro

Vivemos num mundo deveras diferente do de Lutero, Zwinglio e Calvino. Talvez você lembre o desenvolvimento tecnológico. Sim, eles viajavam em carroças, nós em automóveis e aviões; escreviam com penas de ganso, nós digitamos num tablet; eles se relacionavam olho no olho, nós, pelo Facebook; etc.

Ainda que isto molde nossa vida cotidiana, a maior diferença para o tempo da Reforma é que, então, se vivia numa cultura cristã homogênea, enquanto que hoje vivemos num ambiente pluralista e pós-cristão. Quando recorriam às Escrituras Sagradas, os reformadores não precisavam convencer seus contemporâneos da sua autoridade. Nós, no entanto, não podemos mais pressupor que as pessoas à nossa volta a reconheçam. Vivemos em meio a um ferrenho concurso de verdades e convicções.

Por isto não basta repetir os reformadores, mas devemos aprender deles a atentar para o prumo de Deus a fim de anunciar ao nosso tempo o que Deus está revelando. Os reformadores podiam pressupor que seus contemporâneos entendiam sua vida e o mundo baseados na cosmovisão cristã. Nós precisamos aprender a articular com clareza como encaramos a vida e o mundo e que diferença isto faz em relação a outras propostas. Quem não conhece o Deus da Bíblia precisa desta oportunidade.

Quando ele encosta seu prumo em nós, fica evidente o que não está aprumado. É assustador perceber quanta resistência há em nós, mas é revigorante poder admitir a ajuda de Jesus Cristo. Ele “agiu para consertar as coisas nesta vida de contradições com a qual quero servir a Deus de todo coração e mente, mas sou puxado pela influência do pecado, e acabo fazendo algo que não desejo” (Rm 7.25 – A Mensagem). O mesmo poder do Espírito de Deus que atuou nos profetas e na Reforma Protestante, nos ajudará a crer nele e a obedecer hoje.

Fonte: Ultimato

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